A boneca que faz o bebê dormir é a melhor alternativa?
A boneca que faz o bebê dormir é a melhor alternativa?
A semana passada “viralizou” na internet a notícia da venda de uma boneca que faz o bebê dormir, a “lulla doll”. O “brinquedo” surgiu de um projeto de mães da Islândia, com a promessa de fazer a criança dormir mais rápido e a noite toda. E a primeira pergunta que me veio à mente foi o quanto pode ser frustrante e temerário adquirir uma boneca deste tipo, sem a orientação e em qualquer fase de desenvolvimento do bebê?
Em primeiro lugar, apesar de ser um bem cansativo lidar com os problemas de sono da criança, substituir a presença dos pais totalmente por uma boneca é bastante temerário, especialmente quando se trata do bater do coração (uma das características do som da boneca). Hoje em dia, o tempo que os pais podem, querem ou estão preparados para dedicarem aos seus filhos já é bastante curto. E há uma tendência em delegar os cuidados com o bebê para aparelhos eletrônicos (tablets, celulares, ipads), e agora surge mais outra promessa de “calar o choro” da criança, uma boneca que dispensa a presença da mãe nas noites de sono da criança, pois é “o segundo melhor contato que a criança pode ter”, conforme descrito no site que vende a boneca.
Não posso afirmar que a boneca não possa trazer alguma melhora no sono da criança. Até porque não tive a oportunidade de testá-la. Mas entendo que é preciso acompanhamento e orientação sobre o sono do bebê, com base em pesquisas científicas, e de acordo com o desenvolvimento motor e neurológico conforme cada fase, para trabalhá-lo da forma mais respeitosa e realista possível.
De fato, os objetos de transição podem ser aliados do bom sono (bonecas, paninhos, travesseiros), deixando de lado de início a questão da segurança, mas sem grandes ilusões de que funcionará como um passe de mágica que faça a criança dormir à noite toda. Isso porque o bebê nasce com o relógio biológico desregulado, dormindo e acordando várias vezes em 24 horas do dia. Ao longo do tempo, o bebê começa a perceber a distinção entre o dia e a noite, e passa fazer blocos de sono noturno de 5 horas até chegar a 8 ou 12 horas, em torno de 6 (seis) meses de vida, a depender cada bebê. Mas é muito comum relatos de pais de crianças bem mais velhas que não aprenderam a se acalmar sozinha na hora do sono, pedindo socorro aos pais a cada 40 minutos ou 1 hora para voltarem a dormir da mesma maneira que ocorreu no ciclo anterior de sono, isto é, balançando, sugando sem mamar, dando voltas de carro etc.
Destaco, também, que a Sociedade Americana de Pediatra não indica nenhum objeto dentro do berço até 1 (ano) de idade em razão dos riscos de sufocamento. No Brasil, da mesma forma, a indicação dos pediatras é berço livre de adereços. Assim, em tese, a boneca não seria segura para os mais novos.
Imagino que você, que já estava juntando meus $ 295 dólares para comprar a bonecas, e rezando para que chegue ao Brasil um lote gigante delas, deve ter desanimado da esperança de ter suas noites de sono de volta. Mas existem outras soluções mais seguras e baratas para que isso aconteça, tais como, reproduzir o cheirinho da mãe em um lençol ou cobertor usado por ela, colocando-o bem presos à cama do bebê, inserir uma nova rotina familiar (com horários regulares para dormir, sem grandes agitações próximas à hora da cama, sem estímulos visuais de televisão ou tablets, desassociação de objetos de sono externos, ruído branco etc.), realizar massagens, inserir um ritual do sono e procurar ajuda de profissional da área do sono, tudo em prol da segurança do bebê. E sobretudo, dê você mesmo um colinho para seu bebê, deixe ele ficar pele a pele com você ouvindo o seu coração e sua voz, em vez de usar uma boneca em sua substituição quando o bebê ainda não se encontra preparado ou seguro.