Falando Sério: Crianças bilingues tem uma percepção diferente do mundo?
Falando Sério: Crianças bilingues tem uma percepção diferente do mundo?
Alguns meses atras nos aqui do Materniarte, falamos sobre a decisão de colocar seu pequeno numa escola bilingue e sempre falamos também sobre inclusão social. Esses assuntos geraram bastante comentários e muitas das nossas leitoras expressaram o interesse em saber mais. Então achamos importantes compartilhar esse recente estudo feito pela Universidade Concordia que mostra que crianças expostas a duas línguas crescem com expectativas diferentes que aquelas que as que aprendem somente a lingua materna. Sera? vamos ver o que eles falam:
A maioria das crianças são essencialistas: eles acreditam que as características dos humanos e dos animais são inatas (ou seja, nascemos assim). Elas acreditam que o tipo de raciocínio que nos leva a pensar que características como a lingua mãe e o tipo de roupa que vestimos são intrínsecas ao invés de pensarem que são adquiridas.
Mas esse estudo sugere que certas crianças bilingues são mais propensas a entenderem que somos o que aprendemos ao invés de pensar que somos como nascemos. E isso se alinha com o pensamento sobre nossos atributos psicológicos e sociais.
A pesquisa ainda sugere que o ensino bilingual na pre-escola pode alterar a crença que as crianças tem sobre o mundo ao seu redor. Contrariando as crianças monolingues, muitas das crianças que foram expostas a uma segunda lingua depois dos três anos de idade acreditam que as características humanas são geradas a partir da experiência adquirida.
Para o estudo, a professora Krista Byers-Heinlein e a estudante Bianca Garcia, testeram um total de 48 crianças entre cinco e seis anos de idade: crianças monolingues, crianças simultaneo-bilingue (aprendem duas línguas ao mesmo tempo) e bilingues sequenciais (aprenderam uma lingua primeiro e depois a outra).
Para essas crianças, foram contadas historias sobre bebes de pais biológicos ingleses mas adotados por pais italianos, e sobre patos criados por cachorros. Então perguntaram a elas se as aquelas crianças inglesas iriam falar Ingles ou Italiano quando eles crescessem e tambem se os patinhos iriam grasnar ou latir. As crianças foram questionadas também se os patinhos iriam ter penas ou pelos.
A professora Byers-Heinlein explica: “Nos esperávamos que a experiência de ser bilingues sequenciais iria ajudar eles entenderem que a lingua e’ de fato aprendida, mas que todas as outras características como o som dos animais ou suas características físicas seriam inatas.”
Mas ela se surpreendeu com os resultados. De fato, os bilingues sequenciais mostraram uma redução sobre a crença essencialista sobre a lingua – eles sabiam que os bebes criados por Italianos iriam falar italiano. Mas eles também acreditavam que as características fisicas e vocais também seriam aprendidas através da experiência, ou seja que os patos criados pelos cachorros iriam latir e correr ao invés de grasnar e voar.
“Ambos monolinguals e os que aprenderam uma segunda lingua depois mostraram erros no pensamento, mas cada grupo, cometeu erros diferentes. A maioria dos monolíngues estavam mais propensos a pensar que tudo é inato, enquanto os bilingues pensaram que tudo é aprendido”, diz a professora.
“Os erros sistemáticos das crianças são interessantes para os psicólogos por que os ajudam a entender o processo de desenvolvimento. Nossos resultados mostraram uma surpreendente demonstração que a experiência cotidiana pode sim alterar as crenças sobre uma enorme variação de domínios, reduzindo assim as crenças essencialistas preconceituosas”.
O estudo mostra implicações sociais importantes por que adultos que tem fortes inclinações essencialistas são mais propensos a apoiar esteriótipos e atitudes preconceituosas.
“Nossa descoberta que o ensino bilingue reduz crenças essencialistas, poderá elevar a possibilidade de usar o ensino bilingue como uma forma de promover a aceitação da diversidade física e social.” completa a professora Byers-Heinlein.
E voce o que acha? compartilhe suas ideias conosco.
Tradução livre e adaptada do artigo publicado no site Concordia.ca escrito por Cléa Desjardins.